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“Cidade recicla 100% dos resíduos da construção civil e reaproveita em obras públicas”
Desde 2013, a cidade de Jundiaí, em São Paulo, consegue reciclar 100% de todo resíduo de construção civil produzido no município, reaproveitando-o em obras públicas
Quando o assunto é reciclagem de resíduos da construção civil, o Brasil ainda tem muito o que melhorar: cerca de 21% do entulho produzido no país é reciclado, quando praticamente todo ele poderia ser reutilizado.
Apesar da média nacional, há municípios que já atingiram índices de reciclagem bastante altos. Um case de sucesso é a cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, que desde 2013 recicla 100% do resíduo produzido em obras feitas ali – algo em torno de 15 mil toneladas por mês.
O segredo para isso é um programa de gestão de resíduos da construção civil que envolve um sistema totalmente digital para acompanhar – inclusive por georreferenciamento – o lixo desde a sua geração até a reciclagem, que é feita no Centro de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (Geresol) do município.
Todas as empresas autorizadas a fazer o transporte de entulho de construção – os chamados caçambeiros – são cadastradas, o que permite esse acompanhamento e facilita as ações de fiscalização.
“O gerador, a medida que tem necessidade, vai ao transportador e faz a solicitação [de transporte do lixo]. Isso gera um número personalizado. A partir do número, temos como saber quem é o gerador e onde a caçamba estava situada geograficamente. No momento em que está cheia, ela é trazida ao Geresol e damos baixa no processo. Então, o gerador recebe no e-mail dele uma mensagem dizendo que a caçamba chegou e o lixo foi descartado adequadamente”, explica o diretor de Limpeza Pública de Jundiaí, Márcio Alberto Moraes.
No Geresol, o entulho é triado e triturado para então seguir para o beneficiamento, responsabilidade de uma empresa privada que atua por meio de concessão. Beneficiado, o lixo se transforma em seis
subprodutos: pedra 1, pedra 3, pedrisco, bica corrida, areia e pó de pedra. Parte deles é usada para cobertura de estradas não pavimentadas. Outra parte é reutilizada na produção de concreto, o qual é utilizado em obras públicas diversas.
Do aterro à reciclagem
O processo funciona exatamente desta forma há pouco mais de um ano, mas a mudança no tratamento dado aos resíduos da construção civil no município começou em 2010. Até então todo o entulho de obras feitas na cidade – algo em torno de 20 mil toneladas por mês – era aterrado. “Então, os próprios caçambeiros se organizaram para poder fazer a reciclagem”, conta o gestor da Unidade de Gestão de Infraestrutura e Serviços Públicos do município, Adilson Rosa.
Entre 2010 e 2013, o município passou a reciclar cerca de 30% do lixo de construção produzido ali. Para isso, estabeleceu normas regulando a reciclagem e passou a cobrar uma taxa dos transportadores de resíduo – que, por sua vez, cobram dos geradores. A partir de outubro de 2013, iniciou-se a operação de beneficiamento, que gera os seis subprodutos já citados, e o índice de reciclagem subiu para 100%. Assim, o foco passou a ser o combate aos pontos de descarte clandestinos cujo lixo já era recolhido pela prefeitura e encaminhado para a reciclagem.
Em 2018, o programa de gestão desses resíduos passou por outra mudança. Desta vez, o processo foi dividido em duas operações – e o preço pago por elas também foi dividido. Com isso e com uma negociação do preço pago pelo processamento de cada tonelada de lixo, foi possível reduzir o custo operacional do programa de aproximadamente R$ 20 milhões por ano para R$ 11,8 milhões por ano.
Além disso, ações de conscientização da população e de fiscalização fizeram com que o município conseguisse reduzir o número de pontos de descarte irregular desse tipo de resíduo para 50. Em 2010, a prefeitura contabilizava cerca de 1.700 desses locais.
Fonte: Gazeta do Povo